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Inter de Lages

Patrick Cruz

Buraco de bala e fogo na bandeira

“Inter não perdoa, mata!” A faixa nas arquibancadas do Vidal Ramos Júnior seria apenas um sinal de confiança dos torcedores de que seu time derrotaria mais um adversário se o estádio em questão não ficasse em Lages e a torcida não fosse a do Internacional. Nas lonjuras de Serra Acima, aqueles dizeres podiam ser a convicção do público de que comemoraria mais mais uma vitória, mas também uma velada ameaça.

É coisa de fazer corar muito Boi de Bota - ou orgulhar, a depender do temperamento e do estado de espírito do paisano - o que jornais de fora de Lages escreveram sobre jogos do Inter entre as décadas de 1960 e 1980, mas especialmente nos anos 1970. Quem lê, tem a certeza de que os colorados eram sujeitos brutos, maus e feios.

A julgar pelos relatos, é certo que, antes de partir para Lages, os jogadores que viajavam para enfrentar o Inter faziam com os seus uma ceia digna de feriado religioso, davam um beijo na esposa e nas crianças, assinavam testamento e esperavam a hora da extrema unção, logo depois do confronto. Retornar para casa com vida era quase golpe de sorte.

No jogo da faixa em questão, entre Inter e Joinville, pela segunda fase do Campeonato Catarinense de 1977, os temíveis colorados lageanos ainda estavam untados com um elemento extra de alta combustão: o time rubro não perdia para ninguém.

Antes de receber o Joinville para o confronto, no dia 5 de junho de 1977, o Internacional emendou uma série invicta de dez partidas, sendo nove vitórias. “Jogar em Lages sempre foi muito difícil”, escreveu o colunista Maceió, do jornal A Notícia. “Ainda mais quando o Inter faz latejar no ânimo de seus atletas uma invencibilidade de dez partidas”.

O Joinville, então campeão catarinense, e que conquistaria o estadual também naquela temporada e em todas as outras até 1985, venceu a partida por 1 a 0. O atacante Tonho, homônimo do centroavante colorado, fez o gol da vitória, o que foi a senha para que alguns torcedores colorados atirassem vários foguetes em cima do banco do JEC, segundo o colunista.

O gol saiu aos 36 minutos do segundo tempo. Para segurar o resultado, até o médico Gerd Baggenstoss fez cera, esfregando os próprios olhos insistentemente quando foi atender o artilheiro da tarde.

A torcida organizada Falcões Tricolores lotou cinco ônibus para apoiar a equipe do norte do estado em Lages. A derrota revoltou os colorados, que teriam apedrejado o ônibus da delegação do Joinville e também os dos torcedores.

Alguns dos integrantes da Falcões relataram que as paredes de seu ônibus foram furadas a tiros de revólver. Não houve trégua nem para Arminda Brandemburg, torcedora-símbolo do Joinville, que escapou de agressões do lado de fora do estádio, mas os colorados não deixaram de tomar a bandeira da senhora e queimaram a peça.

Aposto uma bijajica que os jornais de Lages relataram esses episódios, mas também que a revolta eclodiu por causa da atuação da arbitragem, que teria prejudicado o time do Inter. Não conferi. Dessa vez, me dei por satisfeito com a constatação do jornal “O Estado”, de Florianópolis: “O Inter foi muito mais time”.

Isso e a bandeira da dona Arminda já bastaram.

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