Quando estiverem concluídas, as obras do Complexo Ponte Grande garantirão à cidade de Lages uma situação ímpar, ter condições de captar e tratar 70% do seu esgoto doméstico.
Antes que alguém considere pouco, a média de Santa Catarina é de apenas 33% e a melhor cidade ranqueada, Florianópolis, trata 64,57% do seu esgoto. A maioria dos municípios catarinenses está entre 0% e 10%.
A situação é tão séria que a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), responsável pelo tratamento de esgoto em 193 municípios do estado, afirmou que não acredita ser possível atingir a meta de 90% de cobertura até 2033, conforme previsto no Marco Legal do Saneamento.
Preocupado, o Tribunal de Contas do Estado (TCE/SC) lançou uma plataforma aberta ao público, que reúne os dados e a realidade de todos os municípios do estado.
Os dados são de 2023 e fazem parte do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), do governo federal. Entre algumas das maiores cidades do estado, os índices são: Chapecó - 36,76% de esgoto tratado; Joinville - 41,66%, Criciúma - 49,26% e Florianópolis - 64,57%.
Fato é que, até a década de 1990, o Brasil praticamente não investia em obras de saneamento, que não apareciam e, portanto, “não eram atraentes”, politicamente falando. O retrato do descaso é representado pelos números.
Em Lages, em 2002, o serviço de água e esgoto foi municipalizado, desde então é de responsabilidade da Semasa (Secretaria Municipal de Água e Saneamento).
Entre 2002 e 2006, com recursos federais, a rede de captação de esgoto foi ampliada, passando por ruas e avenidas importantes, a exemplo da Avenida Belizário Ramos, a Carahá. Mas a estação de tratamento não recebeu investimentos significativos e, duas décadas depois, parte da tubulação ainda não foi ligada ao sistema.

Esgoto coletado é tratado e devolvido praticamente potável ao Rio Caveiras Foto: Fábio Pavan

Os municípios em vermelho, a maioria, tratam seu esgoto entre 0% e 10%. Lages aparece na faixa entre 40% e 50%
O primeiro avanço significativo
Em agosto de 2019, Lages deu um passo importante rumo à melhoria da qualidade de vida da população com a inauguração do Complexo Araucária, um sistema de coleta e tratamento de esgoto que contempla, aproximadamente, 40 mil metros de redes coletoras, cinco estações elevatórias de esgoto, quatro mil ligações domiciliares e uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), abrangendo 10 bairros: Araucária, Bela Vista, Centenário, Morro Grande, Novo Milênio, Promorar, Santa Catarina, Santa Clara, Santo Antônio e São Luiz.
Inicialmente, foram atendidas cerca de 25 mil pessoas, contudo, a ETE Araucária tem capacidade para até 65 mil pessoas. A inauguração desta obra, somada à capacidade de tratamento da ETE Caça e Tiro, fez com que Lages dobrasse a capacidade de coleta e tratamento de esgoto, abrangendo quase 50% da cidade, desde que os moradores façam a ligação correta de seu esgoto.
A obra Complexo Araucária começou em 2012. Aprovada pelo Ministério das Cidades, foi contemplada, à época, pelo Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2), do Governo Federal, e teve investimento aproximado de R$ 36 milhões.
Folha da Serra - O Complexo Araucária deve atender 25 mil pessoas, mas a ETE tem capacidade para atender 65 mil pessoas. Há como ampliar o atendimento?
Semasa - Segundo dados da prestadora de serviço Itajuí, hoje o complexo Araucária atende cerca de 30 mil pessoas. O Complexo Araucária já ampliou a sua capacidade de coleta de efluentes para atender o Bairro Promorar. O mesmo poderá atender os Bairros: Cruz e Malta, parte do Novo Milênio onde ainda não há rede, partes baixas do Santa Clara e parte do Morro Grande. Além do crescimento previsto para os bairros já atendidos.
Histórico
O sistema de esgotamento sanitário de Lages teve início em 1952, na gestão do prefeito Osni de Medeiros Régis. Na época, foram executados 26 quilômetros de redes coletoras e foi colocada em funcionamento a estação de tratamento do Bairro Caça e Tiro. Com o passar dos anos, não houve grandes investimentos no setor, até o desenvolvimento do projeto que viria a se tornar o Complexo Araucária, e começou a ser elaborado em 2005, quando foram iniciados os estudos para regularizar a situação ambiental. Foram 14 anos até a inauguração.
Complexo Ponte Grande
A implantação do sistema de esgotamento sanitário do Complexo Ponte Grande atenderá a demanda de coleta de esgoto de 13 bairros, onde atualmente residem 35 mil habitantes. Obras foram conveniadas pela Prefeitura de Lages com o Governo Federal, por intermédio do PAC-2.
As obras no complexo incluem serviços de esgotamento sanitário, asfaltamento e urbanização. Entre os objetivos do projeto estão a solução para alagamentos frequentes na região, o deslocamento de parte do tráfego pesado que hoje passa por dentro da cidade, e a melhoria da infraestrutura sustentável dos bairros abrangidos como um todo. “É um projeto antigo, que teve muitos entraves ao longo dos anos.
A retomada era muito aguardada pela população. E a prefeitura não está medindo esforços para estipular e cumprir os novos cronogramas, sem atrasos”, garantiu a prefeita Carmen Zanotto, em matéria publicada no dia 28 de abril deste ano.
Com a conclusão da chamada etapa 0, englobando o esgotamento sanitário e a pavimentação e urbanização, da Avenida Antônio Ribeiro dos Santos até a ponte de acesso ao Condomínio Ponte Grande, no Bairro Várzea, a Secretaria de Obras e Infraestrutura vem acompanhando e fiscalizando as atividades das etapas 1 e 2, com pavimentação e urbanização desde a Ponte do Bairro Habitação, até a Avenida Presidente Vargas.
“Estamos acompanhando de perto esta fase, que tem orçamento expressivo, de R$ 20 milhões. Deste montante, de acordo com as medições e nossa fiscalização, até o momento já foram executados R$ 8 milhões em um trecho de 3,5 quilômetros de extensão”, detalhou o secretário Cleber Machado Arruda, na mesma reportagem.
Já as próximas etapas abrangem novas licitações, levantamento de recursos e elaboração de documentações específicas. A etapa 3, por exemplo, está com projeto em fase final de conclusão e tem estimativa de R$ 10 milhões em investimentos, com pavimentação e urbanização da Avenida Presidente Vargas até a BR-282.
Folha da Serra - O que falta para ativar o sistema de coleta do Complexo Ponte Grande?
Semasa - Atualmente, o Complexo Ponte Grande é composto por 6 setores. Destes, 1 já está em funcionamento e nossa meta é colocar em operação o segundo setor até o final do ano, atendendo a área a partir da Rua Joaquim Nabuco em direção ao Caça e Tiro. Paralelamente, estamos realizando ajustes nos demais setores e implementando melhorias, como o fechamento do terreno onde estão localizadas as elevatórias e a instalação de câmeras de segurança. Essas medidas são essenciais para evitar atos de vandalismo e furtos de materiais elétricos, problemas que têm ocorrido com frequência. Com esses avanços, estaremos perto de ativar o Complexo Ponte Grande em sua totalidade.
Folha da Serra - Assim que for ativado, Lages atingirá 70% do esgoto tratado, um dos melhores índices de Santa Catarina do Brasil?
Semasa - Com a ativação do Complexo Ponte Grande em sua totalidade, o Município terá disponibilidade de tratar 70% do efluente doméstico. No entanto, para que esse percentual seja efetivamente atingido, é fundamental que cada munícipe realize a ligação de sua residência à rede coletora.

Além do tratamento do esgoto, avenida será urbanizada
Abastecimento de água faz parte do processo
O acesso à água potável faz parte do conjunto de saneamento básico. De acordo com a plataforma do Tribunal de Contas do Estado (TCE/SC) a situação dos municípios catarinenses, neste quesito, está melhor, geralmente acima dos 90%. Lages está bem próximo dos 100%.
Uma obra aguardada há mais de duas décadas pela comunidade e que promete reforçar o abastecimento de água potável para as regiões Norte e Leste da cidade de Lages está em andamento.
A prefeita Carmen Zanotto, juntamente com a diretora-presidente da Secretaria Municipal de Águas e Saneamento (Semasa), Paula Cristina Granzotto, assinou a ordem de serviço que autoriza o início das obras de extensão da rede de abastecimento de água no município. O ato aconteceu no dia 10 de setembro, no terreno anexo à Epagri – Extensão Experimental de Lages, onde está localizado o reservatório de água potável R1.
A obra vai interligar o R1, instalado no Bairro Morro do Posto, ao reservatório R20, no Bairro Vila Maria. Aproximadamente oito mil pessoas sentirão as melhorias no abastecimento de água potável no município. Serão cerca de 2.300 ligações de água beneficiadas.
A primeira fase da obra já foi executada, e agora entra em uma parte mais complexa. A previsão é de que dentro de alguns meses esteja concluída. A expectativa é de que no início do verão de 2026 já não aconteçam mais episódios de falta d’água nas regiões mais afetadas.
“Trata-se de uma obra que vai trazer mais qualidade de vida às pessoas, que pagam impostos e merecem ter o retorno esperado. Nossa previsão é de que até o próximo verão já tenhamos este problema resolvido e as famílias possam contar com água em abundância em suas casas”, salientou Carmen Zanotto.
Estimada em R$4 milhões, com recursos próprios da Prefeitura de Lages, esta obra vai trazer benefícios diretos para os bairros Vila Maria, Restinga Seca, Guadalajara, Jardim das Camélias, Pisani e CDL.
Além disso, a obra também resultará em melhorias significativas no abastecimento de toda a região Leste da cidade, com influência direta do reservatório R3, contemplando desde o bairro Guarujá até a região dos bairros Penha, Caravágio, Popular e Várzea.
Folha da Serra - Em relação ao abastecimento de água, 100% do perímetro urbano é atendido?
Semasa: Consideramos 99% do perímetro urbano atendido com o abastecimento de água. Porem com a mudança do Plano Diretor algumas áreas como o Salto Caveiras hoje é considerado área urbana isso diminui a porcentagem.
Folha da Serra - A construção do poço artesiano no Salto Caveiras resolveu os problemas?
Semasa - A problemática enfrentada no início do ano na comunidade foi resolvida, porém não foi construído um novo poço e sim feito um conserto no poço existente.

Tubulação fará a ligação entre reservatórios para melhorar o abastecimento nas regiões Norte e Leste de Lages Foto: Fábio Pavan
Benefícios com o saneamento básico
Redução de doenças
O saneamento básico está imediatamente relacionado à saúde. Além de prevenir doenças de veiculação hídrica, como infecções gastrointestinais, amebíase, hepatite, entre outras, também evita a proliferação de mosquitos como o Aedes Aegypti, transmissor da febre amarela, dengue e zika.
A redução de doenças não só traz benefícios para a saúde da população como também para os cofres públicos, ao diminuir o número de atendimentos pelo SUS.
Turismo
Imagina um lugar paradisíaco sem tratamento de esgoto e água potável? O desenvolvimento do turismo depende de uma infraestrutura adequada, tanto para garantir a qualidade dos serviços quanto para assegurar a saúde dos turistas e dos moradores da região.
De acordo com dados da Trata Brasil a contaminação do meio ambiente por esgoto compromete o potencial turístico de uma região. Estima-se que os ganhos com o turismo resultantes da universalização do saneamento básico podem atingir R$1,2 bilhão por ano entre 2015 e 2035.
Além disso, o tratamento da água e esgoto também valoriza o turismo sustentável, aumenta a renda dos trabalhadores do setor, traz lucro para as empresas e maior recolhimento de impostos para os governos.
Valorização imobiliária
Entre os benefícios do saneamento básico também está a valorização dos imóveis. De acordo com dados do IBGE de 2015, houve um grande impacto do saneamento sobre o valor dos imóveis e na economia.
A pesquisa indicou que ao considerar dois imóveis em bairros semelhantes que se diferenciam somente pelo acesso ao saneamento, o que tinha serviço de coleta de esgoto e tratamento de água poderia custar até 14% a mais. O acesso a serviços de saneamento básico está relacionado ao desenvolvimento das regiões e, consequentemente, à sua valorização.
Melhoria na educação
Pode parecer que estas coisas não estão relacionadas, mas a falta de saneamento básico impacta de forma negativa o direito à educação. Pessoas que vivem em áreas sem acesso à rede de distribuição de água e de coleta de esgoto apresentam maior atraso escolar, o que implica também na perda de produtividade e menor remuneração das gerações futuras.
Somente em 2015 o custo do atraso escolar devido à falta de saneamento alcançou R$ 16,6 bilhões. Esse atraso acontece principalmente devido a doenças associadas à falta de saneamento, por isso, em áreas com acesso à água potável e tratamento de esgoto, o atraso e evasão escolar tendem a ser menores.
Fonte: BRKAmbiental.com.br
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