Mulheres rompem o silêncio em noite de conscientização e fortalecimento |
Uma noite que começou como um workshop se transformou em um verdadeiro encontro de escuta, empatia e força coletiva. O Núcleo da Mulher Empreendedora da Associação Empresarial de Lages (ACIL), em parceria com a OAB Subseção Lages, promoveu o evento Rompendo o Silêncio na última quinta-feira (17), no Mercado Público de Lages, um encontro marcante que reuniu especialistas, autoridades e lideranças femininas em um movimento coletivo de conscientização e combate à violência contra a mulher.
Com uma abordagem informativa e acolhedora, o evento abordou a violência doméstica que pode ser física, sexual, patrimonial, psicológica e moral e, muitas vezes, começa de forma sutil e silenciosa.
A partir desse alerta, o workshop se transformou em um espaço de escuta e partilha, no qual histórias de superação se misturaram a dados alarmantes e propostas de ação concreta.
Ana Paula Ribeiro e Daniela Rosa de Oliveira, do Protótipo Alpha, apresentaram um panorama preocupante: em 2024, o Brasil registrou 85 mil assassinatos de mulheres e 60% foram cometidos por parceiros ou familiares.
Em Santa Catarina, foram mais de 96 mil casos de violência doméstica, uma média de 263 por dia. Nos cinco municípios da Serra Catarinenses — Bom Jardim da Serra, Curitibanos, Lages, São Joaquim e Urubici —, onde foi implantado o Protótipo Alfa, somaram-se 3.307 ocorrências no ano, uma média de nove casos por dia. Números que falam por si e que exigem ação imediata.
O advogado Dr. Vitor Hugo de Melo trouxe orientações práticas sobre direitos patrimoniais, explicando como funciona a partilha de bens e os diferentes regimes de casamento.
Na sequência, o juiz Dr. Alexandre Takashima abordou um tema delicado, mas necessário: a violência patrimonial durante o divórcio. Muitas mulheres aceitam acordos prejudiciais para encerrar relações abusivas, abrindo mão de bens e assumindo dívidas desproporcionais.
“As mulheres estão pagando para ter paz. E isso é muito violento”, afirmou. Encerrou sua fala com um desejo pessoal, “eu sonho que minha filha possa viver em uma Lages onde as mulheres possam se sentir seguras em qualquer lugar”.
Outro momento de forte impacto foi a apresentação da soldada Yasmin Caroline Ribeiro e do cabo Tiago Abreu, da Rede Catarina. Eles compartilharam trechos reais de chamadas feitas por mulheres e crianças pedindo socorro à Polícia Militar.
Em seguida, explicaram o funcionamento do botão do pânico, disponível no aplicativo PMSC Cidadão, que está disponível para quem possui medida protetiva e permite acionar a polícia de forma silenciosa e prioritária, utilizando a localização do celular para garantir resposta rápida.
A rede de apoio também foi amplamente destacada. Suzana Duarte explicou que a Secretaria de Políticas para a Mulher e Pessoa Idosa oferece atendimento jurídico, psicológico, escuta qualificada e plantão 24h.
A Casa de Apoio Rosalina Maria Rodrigues é um abrigo seguro para mulheres e seus filhos, onde recebem amparo para recomeçar. “É preciso acolher sem julgamento e garantir que as informações cheguem até quem precisa”, reforçou.
A psicóloga e professora Dra. Lilia Kanan trouxe uma reflexão profunda sobre como muitas violências começam de forma quase invisível, especialmente as psicológicas e financeiras.
Segundo ela, o fortalecimento emocional é essencial para que as mulheres reconheçam esses sinais e consigam se libertar. “Superar exige resiliência, apoio e escuta ativa”, disse.
Um dos momentos mais comoventes da noite foi o depoimento de Aldenize Kley, integrante do Núcleo, que compartilhou sua história de superação após anos de violência.
Sua coragem em expor a própria trajetória emocionou a todos e provocou reflexões sobre os impactos da violência e a importância de construir caminhos seguros para que mulheres possam buscar ajuda sem medo ou vergonha.
Ao final, ficou o compromisso coletivo: que Lages continue sendo um território de escuta, informação e ação. Que o silêncio não seja mais cúmplice da violência, e sim rompido, com coragem e união.
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