Evento reúne apresentações de bandas em dia de muita música e cultura
A tarde do último sábado (25) foi marcada por guitarras, ritmos frenéticos e nostalgia no Mercado Público de Lages. O local sediou a segunda edição do Festival Bar do Tio Ivo, evento que revisita a memória do bar de Ivo Zampirolo, espaço fundamental para a cena de música independente lageana na década de 1990. O festival reuniu um grande público, que teve a chance de relembrar ou conhecer pela primeira vez o rock lageano daqueles tempos.
O som foi diverso e intenso, reunindo diferentes vertentes do rock. As Filhas do Velho abriram com o peso do hard rock clássico, com versões de bandas como Black Sabbath e Nazareth.
Em seguida, a Inithram apresentou um repertório alternativo, com nomes como Radiohead, Smashing Pumpkins e Fugazi. A Palhas do Coqueiro trouxe a energia e irreverência do hardcore, enquanto a Orquídea Negra encerrou o dia com a potência do heavy metal lageano.
Para a organização do festival o Mercado Público se consolida como o espaço do festival. “Somos muito gratos a equipe do Mercado, ao Célio Bueno, pela parceria e apoio”, afirma o produtor artístico, Andrey Farias.
Música, legado e resistência
Para Rafael Constantino, guitarrista e vocalista da Inithram, o reencontro no Mercado Público teve um sabor especial. Segundo ele, o festival simboliza um recomeço para a cena rock lageana e uma celebração das amizades construídas nos anos 1990.
“A história parecia ter acabado, mas está reiniciando”, afirmou. Rafael destacou a união entre as bandas da época e a força das lembranças que permanecem vivas até hoje. Ele acredita que eventos como o Festival Bar do Tio Ivo ajudam a fortalecer o movimento cultural da cidade, aproximando diferentes gerações e estilos. “O rock abrange todo mundo — pessoas diferentes, bizarras, felizes — e é isso que torna tudo tão especial”, completou.
A vocalista das Filhas do Velho, Jungle Jay, ressaltou que subir ao palco foi uma enorme satisfação. Ela lembra que o antigo bar foi um espaço essencial para o underground lageano e para a juventude que buscava um lugar para se expressar. Jay também destacou a importância de ver mulheres organizando e tocando em um ambiente que ainda é, em grande parte, dominado por homens.
“A atitude não tem gênero”, disse. Para ela, ocupar esse espaço é um gesto de resistência. “Ver mulher num ambiente totalmente masculino é revolucionário e necessário”, completou.
Para Edvar Goulart, vocalista da Palhas do Coqueiro, tocar no Festival Bar do Tio Ivo foi uma oportunidade de celebrar a trajetória da banda e a música autoral de Lages. Ele destacou que o antigo bar foi um berço para músicos que hoje atuam em todo o estado e ressaltou a importância de eventos como esse para conectar gerações.
“É extremamente importante ver pessoas que não viram a banda no passado se emocionando hoje. Isso mostra que nosso trabalho ainda causa impacto”.
Documentário “Bar do Tio Ivo: Histórias de um bar de Rock”
Lançado em 2024 na primeira edição do festival, o documentário é uma realização do Coletivo Audiovisual Lageano (CAL) e foi dirigido pela historiadora Suzane Faita.
A produção aborda a trajetória do Bar do Tio Ivo a partir de depoimentos de músicos que fizeram parte da cena dos anos 1990 e 2000, período em que o espaço se tornou um ponto de encontro essencial para a música independente em Lages. Segundo Suzane, o espaço se destacou por abrir as portas aos artistas locais.
“O Tio Ivo não fazia os shows, ele abria as portas. E os músicos, ou aspirantes a músicos, faziam por si. Muita banda se formou a partir de ver outras tocando no bar”, contou.
Para a diretora, o festival de hoje cumpre papel semelhante ao do bar nas décadas passadas, reunindo tanto quem viveu aquele período quanto as novas gerações.
“Bandas que estavam adormecidas estão voltando a tocar, e isso é muito bonito de ver. Quando o público aparece, os músicos percebem que há espaço e vontade de ouvir rock novamente”, afirmou.
Suzane também destacou a importância de fortalecer a presença feminina nos palcos, lembrando que a participação das Filhas do Velho teve justamente o objetivo “de mostrar que é possível, que as mulheres também podem estar no palco”.
O II Festival Bar do Tio Ivo foi realizado por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) — Circuito Catarinense de Cultura PNAB/SC 2024 —, com apoio da Fundação Catarinense de Cultura e do Governo do Estado de Santa Catarina. A organização já manifesta a intenção de promover uma nova edição em 2026, dando continuidade à celebração do rock lageano.
Fotos: Joana Trombeta



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