O Inter como um sintoma
O anúncio da decisão do Inter de Lages de não participar da Série B do Campeonato Catarinense neste ano, tema deste espaço na semana passada, não deixou ninguém feliz - ninguém que se importe com a existência e o fortalecimento do clube, ao menos. Situações como essa nos entristecem e enfurecem, e é natural que, para lidar com a tristeza e a fúria, procuremos um judas para malhar.
Segundo as manifestações que se avolumaram em meios de comunicações, redes sociais, grupos de WhatsApp e outros fóruns, analógicos e digitais, o principal - para alguns, único - responsável pelo quadro seria o presidente do clube. Não vou concordar nem discordar dos argumentos, assim como não vou reproduzi-los. Não vem ao caso, porque o tema, aqui, não será o que fez ou deixou de fazer o dirigente. Isso é tema para uma coluna à parte.
O Inter é um símbolo de identidade de lageanos e serranos, como já se comentou aqui. Mas ele é também outras coisas, e uma delas me parece ainda mais evidente no momento atual: ele é um termômetro dos humores, forças e debilidades da vida lageana.
O fato de o clube ter desistido de uma competição não é um episódio isolado, um soluço de fraqueza em uma cidade que está esbanjando vitalidade. Enxergar o Inter como algo dissociado de tudo mais que nos cerca é alienação, miopia ou deliberada má-fé.
Enumeremos a coleção de golpes que sofremos recentemente: em março, Lages e a Região Serrana perderam o único voo regular que nos ligava ao restante do mundo; em abril, encerrou-se a operação da linha férrea que passa por Lages; Lages, que já foi um dos mais importantes motores da economia catarinense, hoje não aparece mais nem entre as dez principais cidades no ranking de produto interno bruto (PIB) dos municípios, o que ocorreu faz poucos anos; e a Festa do Pinhão, nosso principal evento, chegou a correr risco de sequer acontecer neste ano. Ela ocorrerá, mas em formato mais enxuto e longe do espaço que a consagrou nas últimas décadas.
Apontar o dedo para um só “culpado” por esses e outros problemas de nossa cidade talvez alivie momentaneamente a raiva que queremos extravasar, mas é, também, o caminho mais rápido para seguirmos minguando. Mais produtivo é não nos deixarmos guiar exclusivamente pelo fel, e, em vez disso, darmos passos racionais e coordenados para melhorar.
Não se avança sem se saber onde está. Nesse sentido, creio que esses sintomas (o voo que sumiu, a ferrovia que parou, a festa que encolheu, o clube que desistiu de um campeonato) e outros nos dizem, no mínimo, que nossa cidade está se apequenando. Como para gerar oportunidades para todos precisamos crescer, isso é um problema.
Se, coletivamente, concluirmos que de fato nós temos problemas a enfrentar, o segundo passo é discutir, também em conjunto, os melhores caminhos para nossa terra voltar a se fortalecer. Nesse ponto, vejo como promissoras as ideias e iniciativas do grupo que integra o Pacto pela Aceleração Territorial.
Feito o diagnóstico e discutido o plano de ação, vamos colocá-lo em prática. Só depois disso é que, se for o caso, podemos, aí sim, identificar os “culpados” pelos diferentes contratempos que nos afligem. Uma pista para saber quais judas devemos malhar é descobrir a quem interessa que nossa terra não cresça nem se desenvolva. E eles existem, estejamos todos certos disso.
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