Para grande parte do mundo católico, para o jornalismo, até o mais investigativo, para os chefes das Nações, o mundo foi surpreendido com a escolha do Cardeal Robert Francis Prevost. Também muitos ficaram perplexos com a escolha do nome com o qual será conhecido e chamado como Papa: Leão XIV (14).
Há várias especulações sobre a razão da escolha do nome, Leão. Pessoalmente eu me inclino a pensar que uma das razões está em Leão XIII(13), o primeiro Papa que no fim do século 19 e início do século 20, escreveu a primeira Encíclica Social da Igreja: “Rerum Novarum”, praticamente a “mãe” de todas as demais Encíclicas Sociais de todos os Papas subsequentes, que em seu tempo, chamaram atenção que a Igreja, partindo do Evangelho e da vida de Jesus, tem a obrigação da defesa do vida digna e dos direitos de todos, em especial dos pobres, excluídos, e dos mais injustiçados.
Creio que não devemos fazer “pré-julgamentos” e preconceitos em relação ao novo papa, Leão XIV. O prudente é darmos tempo para que ele vá se revelando passo a passo.
Mesmo assim, para mim pessoalmente, suas primeiras palavras, ao se apresentar e hoje na missa com os Cardeais, nos dão bons e animadores indicativos de continuidade de uma Igreja sempre mais Povo de Deus, Missionária, em Saída, Acolhedora, Sinodal, Dialogal, samaritana, misericordiosa, construtora de pontes, promotora da paz, mas uma paz, sem armas, guerras e violência. “ELE DESEJA UMA PAZ DESARMADA, UMA PAZ DESARMADORA".
Sua origem agostiniana nos garante clareza e firmeza na doutrina, amor evangélico aos pobres, seguindo os passos de Jesus. Santo Agostinho dizia: “Ama, e faze o que quiseres”. O mesmo santo também acreditava que a fé e a razão devem caminhar juntas; que a justiça social é um compromisso que brota do Evangelho e é expressão concreta do amor cristão.
Cardeal Robert Francis Prevost disse após a morte do Papa Francisco que ainda havia "muito a fazer" na transformação da Igreja. "Não podemos parar, não podemos retroceder. Temos que ver como o Espírito Santo quer que a Igreja seja hoje e amanhã, porque o mundo de hoje, em que a Igreja vive, não é o mesmo que o mundo de 10 ou 20 anos atrás".
Disse ainda que “a mensagem é sempre a mesma: proclamar Jesus Cristo, proclamar o Evangelho, mas a maneira de alcançar as pessoas de hoje, os jovens, os pobres, os políticos, é diferente”.
Em relação aos bispos disse que "O BISPO NÃO DEVE SER UM PEQUENO PRÍNCIPE SENTADO EM SEU REINO". Em vez disso, disse que, Um Líder Da Igreja é "chamado autenticamente a ser humilde, a estar próximo das pessoas a quem serve, a caminhar com elas, a sofrer com elas".
Em sua primeira missa como Papa disse: "Deus me confiou este tesouro para que, com a sua ajuda, eu possa ser seu administrador fiel em benefício de todo o Corpo Místico da Igreja. Ele o fez para que ela seja cada vez mais plenamente uma cidade sobre o monte, uma arca de salvação navegando pelas águas da história e um farol que ilumina as noites deste mundo”. "Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer". Ele pregou ainda que a “Igreja Católica deve ser um farol para o mundo e que se identifique pela santidade de seus membros, e não pela grandiosidade de seus edifícios”. “Não são poucos os contextos onde a fé cristã é considerada algo absurdo”.
O papa Leão XIV também fez um alerta contra a ideia de reduzir a figura de Jesus a um "líder carismático ou a um super-homem".
"Ainda hoje, não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático". Ele disse ainda na homilia da sua primeira missa como Papa que “espera trazer luz às noites escuras deste mundo”.
Nascido nos Estados Unidos, traz em sua formação a cultura americana, mas sua vida pastoral como Padre e Bispo é muito mais na América Latina, em especial, no Peru, onde conseguiu nacionalidade por seu grande envolvimento com os pobres, como bispo da diocese de Chiclayo, onde até andava a cavalo em algumas visitas pastorais.
Por fim, transcrevo de sua primeira fala, da mais famosa janela do Vaticano: “Que a paz esteja convosco. Irmãos, irmãs, caríssimos, esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado, o bom pastor, que deu a vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação, de paz, entrasse no vosso coração, alcançasse vossas famílias, a todas as pessoas. Onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra, a paz esteja convosco. ESTA É A PAZ DE CRISTO RESSUSCITADO, UMA PAZ DESARMADA, UMA PAZ DESARMADORA, humilde e perseverante, que provém de Deus. Deus que nos ama a todos, incondicionalmente”.
Rezemos por seu Pontificado para que permaneça um bom pastor com cheiro das ovelhas.
Dom Guilherme Antonio Werlang, M.S.F.
Bispo Diocesano de Lages, SC
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