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Inter de Lages

Patrick Cruz

Que estale a grimpa

Antes de o Brasil conquistar pela primeira vez a Copa do Mundo de futebol, em 1958, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues tratou inúmeras vezes do que ele chamava de “complexo de vira-latas” nacional. Com essa, por assim dizer, teoria, ele mostrava como os brasileiros teimavam em bater palmas para qualquer pataquada estrangeira e desdenhar do que tínhamos de bom.

Era um raciocínio sobre o futebol, mas transformou-se virtualmente em uma tese sobre a alma pátria. Não se revogou a constatação de Rodrigues mesmo depois de o Brasil ter conquistado a Copa do Mundo cinco vezes e se transformado na seleção mais vitoriosa da história da modalidade. O raciocínio segue tão presente no debate público que virou lugar-comum - e a menção neste texto é mais uma prova disso.

Se vivo estivesse e decidisse passar uma temporada em Lages, Nelson Rodrigues talvez atualizasse tiradas, repertório e observações sobre os aspectos patológicos da autodepreciação. Ou talvez acabasse querendo apenas uma sopinha quente na cama, sucumbindo ao primeiro caso de complexo de inferioridade transmissível da história da humanidade. 

“Lages é a ‘cidade da latinha’: lá tinha uma empresa, que faliu; lá tinha um teatro, que fechou; lá tinha um casarão histórico, que foi pro chão”. Tantas foram as vezes que ouvi esse comentário insosso, em diferentes variações, que gastei uma coleção inteira de risos amarelos nas conversas com tediosos interlocutores.

Esta coluna impôs-se uma camisa de força editorial: ela só vai falar do Inter de Lages. Tudo sobre o time da nossa cidade poderá ser tema. Tem sido assim desde janeiro de 2024, quando este jornal a publicou pela primeira vez.

E o que fazer com uma coluna semanal sobre um time que não entra em campo há mais de um ano e que sequer terá competição para disputar em 2025? Quase ouço uma voz queixosa, cabisbaixa, dizer que, sem futebol, não há por que escrever. Que agora só o que temos pela frente é o passado. Que esse clube tem mais é que acabar mesmo.

Até compreendo a desesperança da voz apócrifa. O Internacional não tem nos dado motivos para comemorações, afinal. E compartilho a angústia de não ver o time em ação neste ano.

O torcedor que estiver no espírito do lamento merece consideração e respeito. Está em seu direito. Não se vai contestar um milímetro disso.

Mas, mui respeitosamente, este espaço se recusa a deitar em posição fetal. Ele continuará fazendo reverência ao passado, mas o olho estará, com muito mais frequência, nas coisas que nos aguardam - e, mais importante, nas que podemos, nós todos desta cidade, construir.

O Inter de Lages não tem sede, calendário, elenco, mas tem futuro. Isso é mais certo que estalar de grimpa.


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