Os freudianos da bola
Acompanhar uma discussão sobre futebol entre amigos pode ser um exercício divertido. Um torcedor vai discorrer sobre os atributos incomparáveis de seu clube do coração e a pretensa falta de predicados do time rival, e o interlocutor vai responder com desdém. Depois, eles vão trocar de papéis, e assim seguirá a contenda, até que surja um assunto mais estimulante – ou que o garçom chegue à mesa com a conta.
Um dos elementos que dão graça a cenas do gênero é que, quaisquer que sejam os personagens envolvidos, os times que são objeto da conversa ou o lugar do mundo em que o debate ocorra, jamais essas discussões chegaram a lugar algum. Um torcedor tentará dar ares científicos a seus argumentos – número de títulos de seu clube, sequência de vitórias em determinado campeonato, estatística disso e daquilo –, que defenderá de maneira ao mesmo tempo eloquente e apaixonada. O outro torcedor ouvirá a cantilena numérica e, assim que chegar sua vez de falar, desmontará o risinho mal disfarçado no canto da boca para a flechada indefensável: “Peraí, Oswald de Souza, fala devagar pra eu anotar aqui. Vai que cai na prova amanhã”.
Mentes preguiçosas apelarão a chavões como “contra fatos não há argumentos”, e em seguida, com ares de quem está a eternizar uma verdade em bronze, dirão que tal clube é “grande”, e o outro, “pequeno”. Nesse momento, vê-se um vulto baforar um charuto no além: sacramentar a relevância de algo com os adjetivos “grande” e “pequeno” é coisa que Freud explica.
Nas últimas décadas, convencionou-se dizer que há cinco clubes “grandes” no futebol catarinense. As conquistas estaduais e a participação frequente em competições nacionais, ainda que de segundo, terceiro e quarto escalões, alçaram Avaí, Chapecoense, Criciúma, Figueirense e Joinville a esse panteão de iluminados.
Em comparação com o Internacional de Lages e outras equipes de Santa Catarina, esses cinco clubes têm, de fato, mais conquistas estaduais, orçamentos mais fornidos, etc, etc. Mas pergunte a um torcedor do Palmeiras, do Fluminense ou do Atlético Mineiro se ele teme enfrentar um dos “grandes” de Santa Catarina. No espírito da galhofa, porque futebol é diversão, talvez o fulano nada faça além de sacar um microscópio.
O Inter de Lages é um clube “grande” ou “pequeno”? Ele é o que é. O que realmente importa é a importância que ele tem para nós. Fazer pouco do clube da nossa terra é um dos tantos elementos da autodepreciação quase patológica dos lageanos, um fenômeno onipresente, contra o qual precisamos lutar até que, por fim a derrotemos.
O Internacional é enorme, gigantesco, incomparável. Por quê? Porque é nosso. Grandeza não se mede com planilhas numéricas nem com fita métrica. Se alguém disser o contrário, solte a gargalhada e sugira ao conviva uma conversa com um psicanalista.

Este pequeno torcedor torce para um grande clube, sim (Foto: Gabriel Athayde/Inter de Lag
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