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Rede de Mulheres já reúne três grupos ativos em Santa Catarina e promove impacto social com a liberação de crédito solidário para 28 empreendedoras
Um projeto pioneiro no Brasil vem ganhando força na Serra Catarinense. A Rede de Mulheres, iniciativa do Banco da Família, aposta no crédito coletivo com garantia solidária como ferramenta para impulsionar o empreendedorismo feminino em comunidades de baixa renda.
Desde seu lançamento, em março deste ano, já foram formados três grupos, beneficiando 28 mulheres com a liberação total de R$ 16.800 em crédito produtivo.
Até o fim do ano, a expectativa é formar pelo menos dez grupos. O projeto piloto ocorre em Lages (SC), mas os resultados promissores já indicam potencial para expansão.
Inspirado em experiências bem-sucedidas de bancos comunitários da América Latina, o modelo adotado prioriza o vínculo entre as participantes como base para a concessão e gestão dos recursos.
Os empréstimos, que variam entre R$ 300 e R$ 1.000, podem ser pagos em até seis parcelas e são destinados tanto à abertura quanto à consolidação de pequenos negócios.
A maioria das empreendedoras atua na produção caseira de alimentos, como bolos, doces e salgados, além da revenda de cosméticos, roupas, utensílios domésticos e outros artigos.
Os resultados vão além do aspecto econômico e são percebidos diretamente na vida pessoal e social das participantes. Segundo Izabela Ramos, Supervisora de Responsabilidade Social do Banco da Família, “a cada encontro realizado pela equipe da instituição percebe-se constantemente o aumento na autoestima dessas mulheres e empoderamento após a tomada de crédito”.
“Vimos mulheres se sentindo valorizadas por seus potenciais receberem crédito, com oportunidade de capacitação, de aprendizado, na melhoria da qualidade de vida e por consequência o aumento na renda. Percebemos melhoria na saúde mental por meio das trocas e dos relacionamentos interpessoais. Além disso, o investimento nos seus negócios aumentou a produção, principalmente dos alimentos.”
Antes de ingressar na Rede de Mulheres, Ana Silva estava desmotivada, sem estímulo para sair de casa ou iniciar algo próprio. A possibilidade de integrar o projeto resgatou nela um desejo antigo: empreender com a venda de salgados congelados.
Com o crédito obtido, adquiriu um freezer e insumos para produzir e armazenar seus produtos, agora comercializados na padaria do filho. Hoje, Ana participa ativamente das reuniões, compartilha histórias, apresenta fotos de suas produções e já estabeleceu uma parceria com outra integrante da Rede para ampliar as vendas. Segundo ela, o projeto devolveu ânimo, confiança e propósito.
Outro exemplo que ilustra o impacto positivo do projeto é Mara Lúcia Matos de Jesus, de 53 anos, que há 15 anos vende panos de prato, jogos de lençóis e outros itens de cama e mesa na vizinhança.
Inicialmente introspectiva e sem perspectivas claras para o crescimento de suas vendas, Mara permaneceu na Rede graças ao incentivo das colegas. Com o tempo, tornou-se mais ativa e comunicativa, notando uma melhora direta em sua autoestima e no fortalecimento do seu negócio, que agora conta com uma variedade maior de produtos. “Agora sinto mais confiança, porque estamos juntas. Uma ajuda a outra, e isso dá mais força para seguir em frente”, afirma.
Parceria internacional inspira metodologia no Brasil
Com o objetivo de fortalecer o empreendedorismo e garantir a sustentabilidade dos negócios, as mulheres participantes da Rede recebem capacitações periódicas em temas como educação financeira e gestão de negócios.
Para aprimorar essa metodologia, o Banco da Família conta com a consultoria da Fundação Paraguaya, organização internacional com vasta experiência em bancas comunais e microfinanças.
A Fundação já esteve presencialmente em Lages no início do projeto para compartilhar sua experiência, e uma nova visita está prevista para o segundo semestre.
A diretora-administrativa do Banco da Família, Geórgia W. Michielin Schmidt, explica que a capacitação contínua prepara as empreendedoras para os próximos ciclos de crédito, que podem oferecer valores maiores conforme o crescimento dos negócios.
Além disso, o projeto estimula a criação de uma poupança, que funciona como um fundo emergencial para o grupo, fortalecendo a cultura de planejamento financeiro e oferecendo mais segurança em situações imprevistas.
Para implementar o projeto piloto, além da consultoria da Fundação Paraguaya, o Banco da Família recebeu apoio financeiro da Locfund, fundo especializado em financiamento para instituições de microfinanças na América Latina e Caribe.
Com esse suporte, o Banco da Família conheceu o projeto de bancas comunais da Pró Mulher, na Bolívia, que serviu de inspiração para a iniciativa brasileira.
“Esse modelo de projeto já estava no nosso radar há algum tempo, e sua concretização só foi possível graças à união de esforços entre organizações que apoiam o desenvolvimento econômico em comunidades vulneráveis”, destaca Isabel Baggio, presidente do Banco da Família e da ABCRED (Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças).
Segundo Geórgia, a verdadeira transformação promovida pela Rede de Mulheres vai além do acesso ao crédito. Embora o financiamento tenha sido o ponto de partida para unir essas mulheres, o que elas constroem juntas tem um valor muito maior.
A solidariedade, a confiança mútua e o apoio coletivo são os alicerces que fortalecem suas trajetórias e ampliam suas perspectivas. A experiência demonstra que, quando mulheres se apoiam, elas não apenas impulsionam seus negócios, mas também fortalecem suas comunidades e conquistam maior autonomia e protagonismo em suas vidas.
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