Cristina Keiko é referência quando o assunto é empreendedorismo na Serra Catarinense. Até porque, ela é a administradora da Transul, professora da Uniplac e coordenadora do Núcleo da Mulher Empreendedora da Acil
Pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor 2021, realizada em parceria com o Sebrae, aponta que 45% dos empreendedores do Brasil são mulheres. Significa dizer que elas estão no comando de 19 milhões de negócios. A Serra Catarinense segue a tendência, mas, segundo a coordenadora do Núcleo da Mulher Empreendedora da Acil, Cristina Keiko, o desafio é ver como as coisas são feitas lá fora, em outras cidades, outros estados e outros países. Atualmente, as coisas são feitas sempre da mesma forma, situação que retarda e até limita o crescimento empresarial e pessoal dos entes envolvidos.
Desde 2021, Cristina está à frente do Núcleo. Uma das primeiras atitudes foi mudar o nome. Antes era “Núcleo da Mulher Empresária”, ou seja, somente podiam participar mulheres proprietárias de empresas, situação que limitava muito. Atualmente, o núcleo conta com cerca de 50 empreendedoras. Algumas não possuem empresas, mas fazem parte para ganhar experiência, buscar a solução de problemas, conhecer o mercado e contribuir com as demais. “É uma troca de conhecimento em que todas ganham,” avalia a coordenadora. “O núcleo tem duas ações, o Bazar Desapega Rosa e o Mulher Empreendedora. Ficava muito incomodada quando as pessoas falavam que o núcleo só servia para fazer ações sociais e tomar cafezinho.”
Para este ano, a meta é fazer uma missão empresarial via núcleo, mas individualmente, segundo Cristina, há possibilidade de cada pessoa buscar esse conhecimento, até porque, nos últimos 50 anos esse processo foi muito facilitado. Para ela, quando a pessoa viaja, a experiência começa no aeroporto, onde passam pessoas de vários países. Quem está atento já percebe tendências. Para isso, precisa-se olhar os processos de forma mais macro.
Empreendedorismo Sênior
Outra ação será estimular o empreendedorismo em pessoas com mais de 50 anos. Cristina Keiko quer colocar em prática um modelo que conheceu em Portugal. São pessoas que geralmente estão aposentadas, têm recursos, estão equilibrados financeiramente e têm experiência. Sabem lidar com pessoas, que é um dos grandes gargalos das empresas.
“Percebemos que são mulheres que não querem ficar descansando em casa, fazendo tricô, querem criar negócios novos. O foco é mulheres com mais capacitação, mas precisam sair de Lages. Essa é uma meta deste ano”, reforça a presidente do Núcleo da Mulher Empreendedora.
Tamanho territorial pode ser entrave
Em Portugal, Cristina conversou com pequenos proprietários de áreas rurais, áreas que no Brasil são chamadas de chácaras, usadas geralmente para passear e para o lazer. “Não estou julgando e nem criticando. É muito bom ter um espaço desses para o final de semana.”
Mas lá, segundo ela, eles potencializam essas pequenas propriedades que viram um negócio rentável. Ela avalia também que a realidade deles é muito diferente, os países são muito pequenos. Já o Brasil tem uma extensão muito grande de terra, é continental. Aqui, ainda não se percebeu ou não há a necessidade de tornar pequenos pedaços de terra sustentáveis economicamente.
Essa extensão, segundo Cristina, pode atrapalhar a troca de informações, de tecnologias. Para ela, na Europa a impressão é que a informação relacionada à produção transita de forma muita rápida e todos avançam na mesma velocidade.
A mulher no campo
A convite da Epagri, Cristina acompanhou o trabalho realizado pela entidade em parceria com o Sebrae com mulheres agricultoras. Vários projetos são realizados por meio dessa parceria, nos municípios da Serra Catarinense e em outras regiões, tanto para qualificar como para expor e vender a produção realizada por essas mulheres. Geralmente são artesanatos, doces, bolachas, legumes e verduras.
“A mulher tem que acreditar em si mesma. Isso está acontecendo gradativamente. Em Criciúma, projeto de economia solidária permite que as mulheres estejam à frente de várias ações. Mas a gente percebia que a parte do dinheiro ficava com os homens. Isso precisa ser rompido. Se é ela que trabalha, ela que vende, porque ela não pode fazer a gestão do negócio?”
Cristina Keiko
O número de empreendedoras tem crescido a cada ano em Lages?
A Serra Catarinense possui grandes possibilidades de negócios mais inovadores, que vão desde a agricultura familiar até os serviços considerados eminentemente masculinos. O cenário do empreendedorismo feminino no Brasil é de crescimento. Segundo uma pesquisa do LinkedIn, a porcentagem de novas empreendedoras aumentou em 41% durante a pandemia.
Elas investem nos mais diversos segmentos, alguns até pouco tempo considerados exclusivos para homens, a exemplo do metalmecânico?
Estamos quebrando paradigmas, os diversos segmentos estão abertos para as mulheres atuarem e o setor metalmecânico não é diferente. A tecnologia chegou, então, os processos estão mais automatizados, leves e o tipo de conhecimento necessário também mudou. Por isso é fundamental melhorar a formação e conhecimento técnicos para estarem aptas a competir nesse mercado.
Conheço uma mulher guerreira que atuou por muito tempo como consultora da Acil. Hoje, ela é a proprietária de uma oficina mecânica, antes dirigida por um homem. A infraestrutura da oficina mudou, está mais moderna, eficiente e com aparência mais limpa.
Na agricultura por exemplo, sempre foi considerado um trabalho masculino, hoje elas fazem a diferença nas propriedades rurais, mudou a interface com a educação e é exemplo para seus filhos. Elas possuem uma dinâmica de acolhimento, criatividade, inserção na sociedade, carinho com o que faz, enfim, deu significado aos produtos e serviços desenvolvidos nas propriedades rurais. Presenciei muitos casos de produtoras rurais envolvidas nos projetos da Epagri, por exemplo, na qual, tenho orgulho em dizer, VOCÊS SÃO DEMAIS E FAZEM A DIFERENÇA NO MERCADO.
Essa representatividade feminina se deve também ao fato das mulheres buscarem mais qualificação quando comparadas aos homens?
Com certeza. As mulheres buscam mais qualificação, podemos perceber isso nas salas de aula, grande parte é de mulheres. Isso significa que elas terão mais espaço no mercado de trabalho e estarão atuando com maior conhecimento e eficiência.
Como a senhora analisa a participação feminina na consolidação da economia de Lages e da região?
Fundamental, Mauro. A mulher com suas múltiplas habilidades, conseguem compor e atuar em diversos grupos de trabalho. A partir dessa inserção, abrem-se possibilidades e amplia as competências individuais.
O que se a senhora diria para uma mulher que tem a vontade de empreender, mas está receosa?
Procure melhorar suas habilidades, busque uma formação que estimule e melhore seu desempenho. Estamos em eterno aprendizado. O que sabemos hoje, amanhã não serve mais. Por isso, procure se conectar em diversas redes multidisciplinares, contribua e colabore sem pretensão de ganhar dinheiro. Com as habilidades afloradas, você estará apta a competir em diversos negócios, por meio do associativismo e cooperativismo.
Fotos: Mauro Maciel
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