Acostumada com o rigor do frio da Serra Catarinense, a jornalista lageana Marcela Ramos acreditava que não teria problemas para se habituar ao inverno dos Estados Unidos, onde faz um intercâmbio.
Mas não contava que enfrentaria recorde de frio, com tempestades de neve que impediram o trânsito de veículos e causaram o cancelamento de voos, praticamente isolando as cidades. A sensação térmica chegou aos 32ºC negativos.
Marcela está na região suburbana de Chicago, no estado de Illinois e, além do idioma que está aprimorando, terá muita história para contar.
“Eu imaginava que iria suportar o frio com facilidade, pois cresci na Serra Catarinense, região com as temperaturas mais baixas do Brasil, mas aqui é diferente, foram vários dias com temperaturas extremas, e era impossível ficar mais de 30 minutos lá fora.”
Como a intensa onda de frio já era prevista, as autoridades emitiram avisos orientando para que a população não ficasse exposta ao frio por muito tempo.
“Pode causar danos à pele. O vento é tão gelado que você sente seu corpo arder, é como se várias agulhas entrassem em seu corpo.”
Tempestades de neve impediram o tráfego de veículos, e voos foram cancelados. “Foi uma novidade em minha vida esse frio extremo. A camada de neve cobria minhas canelas e tudo o que tinha cor se tornou branco. A paisagem era toda branca, as casas, os carros, a grama, as árvores,” comenta Marcela.
Para compensar o frio externo, todos os imóveis são climatizados, tornando desnecessário o uso de roupas pesadas em seu interior.
A população também está habituada a tirar camadas grossas de neve das calçadas e dos carros, vestir roupas pesadas e ficar longos períodos vendo a paisagem totalmente branca e sem sol.
Acostumada a fazer atividades ao ar livre, Marcela estranhou a limitação imposta pelo clima. Com ruas interditadas, neve e vento forte, as únicas atividades são esquiar e patinar. “Não tem como jogar bola ou fazer uma caminhada.”
“O vento é tão gelado que você sente seu corpo arder. É como se fossem várias agulhas entrando na sua pele.”
Noticiários não falam de aquecimento global
Recorrente em reportagens internacionais, o tema “aquecimento global” praticamente não ganha espaço nos noticiários americanos durante o inverno. Marcela acredita que é difícil falar de aquecimento quando se enfrenta um frio intenso.
A pedido do Folha da Serra, ela pesquisou e encontrou uma reportagem do abcnews.go.com, reproduzindo informações da Agência de Proteção Ambiental Americana (U.S. Environmental Protection Agency).
Diz o texto: Pode parecer contra-intuitivo, mas rajadas de frio extremo, como as que a maioria dos Estados Unidos está enfrentando atualmente, continuarão a ocorrer mesmo que as temperaturas globais subam para níveis recordes.
Embora a investigação mostre que um clima mais quente trará ondas de calor mais frequentes e intensas e menos rajadas de frio, ainda ocorrerão eventos de congelamento generalizados, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
Baixas temperaturas recordes estiveram presentes nos últimos dias, desde as planícies até o Centro-Oeste e Sul.
As temperaturas recordes, tanto quentes como frias, juntamente com ondas de calor e rajadas de frio, fazem naturalmente parte da forma como o clima varia diariamente.
Mas nas últimas duas décadas, os recordes diários são pelo menos duas vezes mais frequentes que os registos diários de frio, de acordo com dados compilados pela Climate Central, uma organização sem fins lucrativos de notícias científicas sobre o clima.
Ainda existem períodos de frio e dias extremamente frios num clima mais quente, mas são mais curtos e não tão frios, de acordo com a Climate Central.
Santa Catarina
Chegada do outono de 2024 também deve marcar o fim do El Niño
Os catarinenses podem esperar chuvas dentro da média e temperaturas próximas a acima da média nos meses de fevereiro, março e abril – é o que aponta o Boletim de Previsão Climática divulgado pela Epagri/Ciram.
A previsão também indica que a chegada do outono de 2024 deve marcar o fim do El Niño. O início da estação no Hemisfério Sul ocorre no dia 20 de março às 00h06. Confira a previsão climática para Santa Catarina:
Chuva mal-distribuída
Durante o mês de fevereiro, a chuva deve ser mal distribuída no estado, associada ao processo de convecção (característica de verão).
A previsão para Santa Catarina aponta que podem ocorrer chuvas intensas no Litoral e no Vale do Itajaí devido à circulação marítima.
“No fim do verão, ainda sob influência do El Niño, permanece o risco de eventos extremos com chuva forte e totais elevados em curto intervalo de tempo, temporais com forte atividade elétrica (raios), granizo e ventania”, destaca Gilsânia Cruz, meteorologista da Epagri/Ciram. Em março e abril, os volumes ficam próximos do esperado.
Temperatura
Ao longo do trimestre, a temperatura deve ficar próxima a acima da média climatológica em Santa Catarina. Nos meses de fevereiro e março, as massas de ar quente atuam com frequência, com dias consecutivos de temperatura alta, inclusive à noite. Ondas de calor são esperadas no verão, especialmente devido à influência do El Niño.
“Podem ocorrer episódios isolados com temperatura mais baixa na madrugada e ao amanhecer, com geada nas áreas altas do Planalto Sul.
Esses episódios devem ser mais frequentes no decorrer de abril, com a chegada das primeiras massas de ar frio ao estado”, acrescenta a meteorologista Marilene de Lima.
Fim do El Niño
Em dezembro de 2023, a temperatura da superfície do mar (TSM) seguiu elevada em todo o Pacífico Equatorial, com anomalia positiva próxima e acima de 2°C, devido à atuação do El Niño forte. Em janeiro de 2024, observa-se uma diminuição desse aquecimento em boa parte do Pacífico Equatorial.
Para os próximos meses, a previsão é de término do fenômeno El Niño, se estabelecendo a neutralidade no decorrer do outono. Há possibilidade de ocorrer La Niña na sequência, e as condições serão monitoradas no decorrer do ano.
Fonte: Epagri Ciran
Deixe seu comentário