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Inter de Lages

Patrick Cruz

Gloriosa manhã
No dia 13 de junho de 2009, data em que o Internacional de Lages completou 60 anos de fundação, algumas dezenas de torcedores colorados reuniram-se em frente ao Vermelhão, a antiga sede do clube, para celebrar a vida de um ausente.

Naquele ano, o Inter estava fora das competições oficiais, o que significa que aquele jovem senhor tornou-se um vetusto sexagenário longe dos gramados e dos olhos dos que o amam.

Mas o amor estava lá. A manhã do encontro foi daquelas de almanaque, com todos os elementos que nos fazem sentir um pouco mais lageanos: temperatura baixa, solzinho preguiçoso de outono, que muito ilumina e nada aquece, o passeio despretensioso dos que iam à “praça” para olhar vitrines e procurar amigos para conversas essenciais em sua desimportância.

Eu acompanho o Inter de Lages desde a infância, por influência de meu pai, Aires Cruz Filho. Ele me fez gostar de futebol e, sem que jamais tenha sido professoral ou pedante, me deu a matéria-prima necessária para eu entender que esse clube é, também, materialização de quem somos.

Meu pai, minha mãe, Ivete Zabot Cruz, e minha então namorada, Flávia Tavares, estavam comigo em frente ao Vermelhão naquela manhã de 2009. Temi que aquele ato fosse um retumbante fracasso, mas eu sabia que os três, alicerces da minha vida, me apoiariam naquela iniciativa, a de comemorar um aniversário na porta da casa em ruínas do aniversariante.

A ideia é que fizéssemos daquele um ato festivo, com os entrantes e semoventes bebendo chimarrão e comendo bergamota, fruta-símbolo das tardes de Inter em campo no Estádio Vidal Ramos Júnior. Naquelas duas, três horas, de fato só houve alegria, nada mais.

O que nunca falei para as pessoas que convidei para aquele ato é que eu estava tratando aquele encontro como um sepultamento. No meu íntimo, eu entendia que aquela ida ao Vermelhão seria para dar adeus ao clube.

Meu pai faleceu em 2018, e, conforme nos pediu perto do fim da vida, suas cinzas estão no gramado e nas arquibancadas do estádio. Minha mãe está tão jovial e sorridente quanto em todas as memórias que tenho dela. Flávia e eu seguimos juntos.

Nossa dupla virou trio há oito anos, quando nasceu Helena, a doce Helena, que transformei em cúmplice involuntária da minha paixão encarnada: o primeiro documento da vida dela foi a certidão de nascimento; o segundo, antes de RG e CPF, uma carteirinha de sócia do Inter de Lages.

A primeira, a segunda e a terceira camisa de futebol que ela teve foi do Inter de Lages. O primeiro time que Helena viu em campo foi o Inter de Lages, em um treino da equipe quando ela ainda estava aprendendo a andar. E o primeiro estádio em que pôs os pés não foi qualquer um de sua São Paulo natal, mas o Tio Vida.

Nesta sexta-feira, dia 13 de junho de 2025, o Internacional de Lages completará 76 anos de existência, e, assim como há 16 anos, mais uma vez o time passará a temporada em entrar em campo. Em 2009, fui a Lages para um velório, e voltei desconfiado de que tinha visto o morto se mexer.

Em 2025, ainda que o time não vá disputar competições neste ano, eu tenho certeza: o Inter está vivo. E o melhor ainda está por vir.

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