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Inter de Lages

Patrick Cruz

Vikings de Serra acima

Já tem uns 20 anos, ou quase isso, que me caiu nas mãos uma pepita. Era um guia de viagens muito completo, com relatos e indicações de visitas não só a cidades brasileiras que são estrelas da indústria do turismo - Rio de Janeiro, Salvador, etc, etc - mas também de destinos menos óbvios. Lages estava no material.

Dizia o texto, entre muitas outras coisas, que, em Lages, era muito comum encontrar pessoas andando pelo centro da cidade com facões na cintura, fazendo coisas prosaicas, como tomar um café ou comprar um emplastro na farmácia. Esse fenômeno, informava o guia, tinha relação com a tradição do município na atividade pecuária. Mas o texto também dava a entender que ver gente com facões era algo que botava certo medo no visitante.

Eu deveria ter anotado o nome do guia, gringo, para tentar achar um exemplar em um sebo, ou simplesmente afanado o negócio. Era a primeira vez que eu via a constatação de um observador estrangeiro sobre a má fama dos lageanos, sujeitos brutos, mal-encarados, bandidos.

Eu sempre achei essa fama divertidíssima. Mais que isso: admito que, na verdade, dou-me o direito de uma pequena traquinagem e digo que a fama é merecida - e ai do interlocutor que quiser pagar para ver. Quando a situação permite, confirmo relatos apócrifos, acentuo tons dramáticos de episódios históricos ou simplesmente recorro a meu lageanês castiço para expressar a concordância: “Bem certinho!” 

Como não moro em Lages há quase 25 anos, é bem possível que as informações que tenho sobre o que meus conterrâneos acham de nossa terra, ou sobre o que, para eles, é, hoje, ser lageano, esteja defasada. Vou à cidade com alguma frequência - bem menor do que a que eu gostaria -, e acompanho, de longe, os principais temas do debate público, mas tem coisas que só se sabe quando se está no dia a dia.

O Inter de Lages é um elemento importante da construção de nossa identidade coletiva. Assim, no espírito do arrepio na espinha do escriba do tal guia, excursões de torcedores para um jogo do time em Joaçaba viram sagas épicas, com hordas de prognatas em trajes vikings.

O Inter em 1957 Foto: arquivo Inter

A propósito, acabei de lembrar: os antigos contam que teve um jogo do clube ali por 1957, 1958, em que o elenco estava bastante desfalcado, e o treinador precisou improvisar na escalação. (Agora já não tenho certeza se foi um jogo no oeste, ali pros lados de Concórdia, ou lá pra baixo, em Tijucas, algo assim. Só sei que era longe).

Tinha o problema dos desfalques e da força do adversário, que não perdia uma partida havia meses. O técnico não teve dúvida: escalou o time com um goleiro e dez zagueiros.

Dez. Pense! Cada machadada era um graveto. O Inter venceu a partida por 1 a 0, e ganhou também no saldo das botinadas: dois adversários terminaram o jogo do lado de fora do gramado, em atendimento médico.

Isso é o que os antigos contam, né? Mas dizem que teve isso mesmo.


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