Bidu e o vendedor
O vendedor bateu o olho e abriu o sorriso. “Inter de Lages?”, perguntou ao identificar o adesivo na parte traseira do carro (foto). Em seguida, partiu para o abraço: “O meu tio jogou no Inter!”
Foi em algum momento do início dos anos 1990 que um jovem de nome Ledomir deixou a Bom Retiro natal para colocar seu talento a serviço do Internacional de Lages. Naquele momento, boleiro de estirpe tinha apelido, e orgulhava-se dele. Exigentes, os linguistas da bola tinham um filtro adicional para seus julgamentos: se fosse um apelido curto, de, digamos, duas sílabas, o atleta furava a fila na peneira. Com duas letras em cada sílaba, então, havia boa chance de se estar diante de um Didi, um Zico, um Zezé. Para ser ter ali um Pelé, talvez faltasse só o topete, por que não?
Bidu era a capa de herói do craque de Bom Retiro.
Faberson, o sobrinho, contou que o tio era bom de bola, mas não foi muito longe com seu desejo de fazer a vida como jogador profissional de futebol. Bidu ouviu os conselhos da mãe, que o alertou sobre as armadilhas de uma atividade tão incerta e perigosa quanto um tiro no escuro. Ou o talvez ela só tenha dito que correr atrás de bola não era profissão de gente direita, ou, quem sabe, tenha exposto o óbvio, que o filho já tinha idade para ganhar dinheiro para se sustentar, o que ainda não era o caso naquele ofício. O relato não trouxe detalhes, e me pareceu que seria indelicado auscultar pormenores. Eram coisas de família que aconteceram há mais de 30 anos, afinal, e o interlocutor era um completo desconhecido.
O ponto de conexão naquele naco de conversa entre dois estranhos foi o time que um dia contou com os serviços efêmeros de Bidu. Estávamos em Jaraguá do Sul, a exatos 259 quilômetros do Estádio Vidal Ramos Júnior, em Lages, e o Inter não estava disputando competição alguma. Ainda assim, ele foi o centro de nosso mundo naquele breve instante, e Bidu, o protagonista com a camisa vermelha, um papel que não teve quando defendeu o clube.
O Internacional vence e perde jogos, e são vitórias e derrotas que movem a torcida, como ocorre com qualquer time do mundo. Mas ele é mais do que simplesmente a sucessão de vitórias, empates e derrotas. Ele é, por exemplo, a materialização do sonho de um talentoso jovem de nome Ledomir, vulgo Bidu, de virar jogador de futebol. E é bandeira de identidade em que dois serranos se enrolaram enquanto trocavam gentilezas e consultavam a tabela Fipe.
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