A queda que não houve

Neste ano, o Inter de Lages caiu para a segunda divisão do Campeonato Catarinense pela quinta vez em sua história. Em todas elas, o clube conseguiu, no campo, retornar à elite - e há de fazer isso mais uma vez. No que depender da torcida, isso há de ocorrer já na próxima temporada.

A queda para a Série B, como a segundona é conhecida atualmente, é coisa relativamente recente no futebol catarinense. O ano de 1985 foi o primeiro em que houve descenso no estadual: Paysandu (Brusque), Juventus (Rio do Sul) e Blumenau foram os primeiros clubes a cair.

Após o rebaixamento colorado em 2024, houve quem comentasse que o Inter estaria no "fundo do poço" e chavões que tais. É isso que acontece quando se desconhece a história: ficasse à mercê dos profetas do caos, que vaticinam o armagedom para vender o Éden.

Para não falar dos momentos em que o Inter sequer entrou em campo, em pelo menos uma ocasião o clube só não caiu para a segunda divisão porque o rebaixamento ainda não existia. Na tabela, entretanto, a queda seria certa.

O Inter começou o ano de 1971 sob o risco de se licenciar do Campeonato Catarinense e fechar seu departamento de futebol. Não havia gente disposta a assumir a presidência do clube (um problema que vemos ainda hoje, diga-se), e, assim, coube a uma comissão provisória inscrever o clube no estadual daquele ano.

A formação do elenco aconteceu às pressas, outro problema que se viu em anos recentes. Mas, durante a competição, o Inter contou com o reforço de Áureo, zagueiro que surgiu nos juvenis do Inter de Lages em meados dos anos 1950 e que brilhou no Grêmio ao longo da década seguinte. O reencontro dos colorados com um filho da terra animou a torcida e rendeu algumas boas vitórias.

Para um time que começou a temporada sob a ameaça de sequer disputar o estadual, o Inter acabou fazendo uma campanha digna. Ela não teria sido suficiente, no entanto, para livrar o clube da segunda divisão, caso ela já existisse: em suas 24 partidas no Catarinense, o Inter venceu seis, empatou cinco e perdeu 13. Com isso, o clube teria ficado em penúltimo no Catarinense de 1971, do qual participaram 13 equipes. Com dois rebaixados, como ocorre atualmente, o destino colorado em 1972 teria sido a Série B.

A combinação entre memória afetiva e ojeriza ao presente pode nos fazer crer que, em um passado distante, o Internacional sempre fez grandes campanhas, ao contrário do que ocorre hoje. Como se vê com o rebaixamento que não houve, isso não é verdade.

Conhecer os fatos não é denegrir a memória de quem um dia vestiu nossa camisa. Precisamos conhecer a história para poder construir o futuro que desejamos. Isso vale para uma cidade, um país - e para o Inter de Lages.