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Espírito de Natal

Ligia Castro reproduz cidade onde Jesus nasceu

  • Ligia trabalha desde o início do ano para confeccionar as peças

    Mauro Maciel


A cada olhar se descobre um personagem novo, uma estrutura, um detalhe quase escondido. Conhecer tudo requer tempo e atenção por parte do observador. Assim é com a decoração natalina de Joana Ligia de Castro, 78 anos, que montou, em mais de cinco metros de sua sala, uma reprodução da cidade de Belém, na Cisjordânia, local onde Jesus Cristo nasceu.

O presépio está ao centro, mas no seu entorno estão prédios, casas, mercados e animais. Nada foi feito de forma aleatória e sim com base em pesquisas. "Jesus nasceu em um estábulo porque ninguém aceitou acolher Maria e José. Mas Belém era uma cidade e possuía uma estrutura comum a vilas daquela época. Resolvi reproduzir tudo isso," conta Ligia de Castro.

Por décadas, ela mantém a tradição de fazer presépios. Assim, algumas peças são antigas, mas a maioria foi feita especialmente para esse ano. Com alguns problemas de saúde, Lígia evita sair de casa e aproveitou os meses de pandemia para criar cada personagem e as estruturas. Ela avalia que foi uma terapia. Precisava ocupar seu tempo. Usou papelão, isopor, massa corrida, restos de tecidos e tintas. "Quase não gastei nada", comenta.

O resultado do trabalho é uma riqueza de detalhes que enche os olhos. Tem ovelhas cobertas com lã verdadeira, personagens vestidos a caráter e cascatas feitas com luzes e silicone.

Questionada sobre a origem dessa paixão, Ligia conta que estudou em colégio interno. Na época ajudava as irmãs (religiosas) a fazer a decoração natalina. Quando retornou para casa, ainda adolescente, manteve essa prática e aprimorou ao longo dos anos. "Pegava as crianças da rua e elas me ajudavam trazendo os materiais para confeccionar o presépio, como a grama. Depois, com o passar dos anos fui ampliando. A internet ajuda muito no processo de adquirir os objetos."


Pai era artesão e músico

Filha mais nova, Lígia não conheceu o pai que faleceu precocemente com apenas 36 anos. Ela nasceu logo depois, em 1942. Ele residia em Urubici, que na época era distrito de São Joaquim. Como ela mesmo diz, era uma localidade do interior onde seu pai fazia artesanatos e construía violinos. 

Na época era muito difícil comprar objetos para compor o presépio. Assim, seu pai, João Pedro Custódio fazia os personagem com argila e tinta, sempre dava um jeito, aponta a filha sem esconder o orgulho da figura paterna. Os instrumentos ele usava para tocar em uma orquestra, composta por outros parentes de Ligia. Todos tocavam "de ouvido". Ou seja, não estudaram música.

"Minha mãe e meus irmãos contam que o pai sempre fazia decoração natalina. Era apaixonado por isso. Acredito que herdei dele essa paixão. Deve ser alguma coisa genética," comenta Lígia, ao falar que seus filhos também têm veia artística, gostam de arte e são músicos. Outros parentes, tios e primos, também têm ligações com o mundo artístico.


"Com Deus no comando isso (pandemia) vai passar"

Para Ligia de Castro, este ano tudo, inclusive o Natal, está completamente diferente, um pouco estranho. Ela pensa no sofrimento das pessoas, principalmente daquelas que perderam entes queridos com a pandemia, mas diz que a gente precisa agradecer por estar vivo e poder fazer as coisas. Apesar de tudo, para ela o espírito natalino permanece forte.  

"A humanidade precisava de uma mudança, de algo que a fizesse refletir e rever suas ações. As coisas estão muito sem controle. Precisamos ter muita fé!. Até lembro da Bíblia que fala das cidades destruídas, Sodoma e Gomorra."

Ligia diz que cada pessoa tem suas crenças, sua religiosidade. Mas quando era jovem não se falava em Papai Noel. Atualmente, o Natal é tratado como uma data comercial, perdeu o sentido de reflexão, de união familiar. Ela lembra que criaram o Papai Noel com base em São Nicolau, famoso por ajudar os pobres, mas com o tempo até o santo foi esquecido.

"Tem gente que diz que não vai fazer mais nada este ano. Mas cada um tem que procurar o melhor jeito para sobreviver. Tenho esperança que tudo vai melhorar (em 2021) e o Natal contribui com isso. Temos que pensar na vinda de Jesus. Temos que se apegar neste lado mais religioso. Cada um tem sua fé, mas precisamos ter esperança. Na idade em que estou nunca havia passado por algo parecido. Com Deus no comando vai passar. É uma provação. Precisamos ter muita fé e se apegar no que for mais verdadeiro," conclui.

Foto principal: Joana 16

Legenda: Ligia trabalha desde o início do ano para confeccionar as peças

Fotos detalhe: Joana 20, 22, 23, 24, 25, 26, 27 e 28


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